A premissa da trilogia é simples: narra o processo da gravidez acidental de Iago, o protagonista que é um homem trans. A história começa com Iago marcando para se encontrar com Leonardo, um estudante de medicina e o pai biológico da criança, e dar a notícia. Quando ele se recusa a assumir a criança por ter certeza de que não é o pai, Raví, melhor amigo de Iago, oferece de dividir a responsabilidade com ele, como pai (ou, às vezes, mãe).
Para essa trilogia, Ariel pega um clichê já visto em histórias com protagonismo cisgênero e heterossexual, e o transforma em uma história com pessoas LGBTQ+ existindo, dando um tom de originalidade na narrativa, por ser a primeira vez que vemos essa história desse jeito. Os personagens são únicos, o que me fez querer saber mais sobre eles, já que os livros são curtos (cada volume tendo entre trinta e quarenta páginas): mais detalhes sobre Raví e como ele lidou com o relacionamento conturbado que é mencionado na história; mais sobre Leonardo, não uma redenção, mas se ele realmente estava sendo sincero no que acontece no final do último livro (não vou ser específico nos spoilers) e, principalmente, mais participação do pai do Iago! É muito raro ver bons pais em obras LGBTQ+, ainda mais brasileiras. Até agora, posso contar nos dedos da mão direita! Deixando aqui a recomendação do filme "Alice Júnior", que você certamente vai amar se gostou da trilogia (e do pai do Iago!). E está disponível na Netflix, então sem desculpa!
Agora, chegaremos à segunda parte da postagem de hoje, que conta com algo inédito nesse recém-nascido blog que não tem nem um mês: uma entrevista exclusiva com Ariel F. Hitz, autor da trilogia "Cores Primárias".
ENTREVISTA
ESPAÇO AQUEERIANO: Como você chegou à ideia do título "Cores Primárias" para a trilogia?
ARIEL F. HITZ: Eu gosto muito da associação de cores com sentimentos. Quando eu pensei na trilogia, eu queria que cada parte fosse representada por uma cor. "Confiança" é azul porque costuma ser uma das cores favoritas das pessoas e eu acho que passa esse sentimento de confiança. É principalmente sobre como o Iago descobre como pode confiar no pai e no Raví e não pode confiar no Leonardo. Já "Calmaria" é amarelo porque é uma cor bem ambígua. E, nessa parte, o Iago sente muitas emoções. Uma mistura de coisas. "Conexão", a última parte, é vermelho porque, essencialmente, é sobre o amor que o Iago sente por Dominik.
EA: Qual foi o primeiro personagem que você desenvolveu para essa história? E seu favorito?
AFH: O Raví é um personagem que aparece no meu livro "A gravidade de Júpiter", então ele surgiu antes. Ele não aparece tanto como na trilogia, mas é importante. Acho que também é meu favorito, mas confesso que eu também amo muito a Katrina. Gosto muito da personalidade dos dois.
EA: Quais foram suas inspirações para a história?
AFH: Eu queria fazer uma história clichê com personagens trans. (...) Eu pensei em todas as histórias de cisgêneros que eu já vi que começam com uma gravidez inesperada. Eu também queria falar sobre paternidade, porque tenho uma relação complicada com o assunto.
EA: Quão organizado é o seu processo criativo? Você cria listas e tabelas para a narrativa, personagens e acontecimentos ou você escreve aleatoriamente, de acordo com o fluxo das ideias?
AFH: É meio bagunçado, na verdade. Mas eu descobri que é importante escrever uma história já sabendo como ela vai terminar, então eu criei o costume de fazer roteiros. É uma coisa simples, só faço o resumo do que precisa ter em cada capítulo e depois vou desenvolvendo. Eu gosto de criar pastas no Pinterest para cada personagem, também. É bom ter uma representação visual de cada um.
EA: Gravidez é um assunto importante na trilogia Cores Primárias, mostrando como vários personagens lidam com a experiência. O tópico de gravidez já esteve presente na sua vida? Teve algum personagem na trama que tenha sido escrito com suas próprias experiências com gravidez em mente?
AFH: Gravidez é na verdade um medo meu. Tenho pavor da ideia de engravidar. Se eu estivesse no lugar do Iago, não pensaria duas vezes em abortar. O Leonardo é um personagem baseado em alguém da minha vida. Meu “pai” teve uma atitude parecida com a dele.
EA: Qual livro ou cena da trilogia foi mais difícil de escrever?
AFH: As cenas com o Leonardo, provavelmente. É algo muito pessoal pra mim. As cenas com o pai do Iago também. Eu nunca tive uma figura paterna, então fiquei com receio de não saber escrever uma relação tão boa quanto as que os dois têm.
EA: Quanto tempo você demorou para escrever cada livro da trilogia?
AFH: O primeiro foi escrito em um mês, eu acho, lá no início de 2020, e logo publiquei. O segundo eu escrevi quase todo logo depois que terminei o primeiro mas, por conta da pandemia e da faculdade, acabei finalizando só no final do ano. Já o terceiro, eu escrevi todo em uma semana, mês passado mesmo. Foi um surto de motivação que eu tive.
E por hoje, é isso. Se vocês quiserem mais entrevistas no futuro, me digam nos comentários; além disso, curtir e compartilhar o blog e as postagens ajuda bastante para que mais escritores queiram ser entrevistades por mim.
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