top of page

A suposta polaridade entre livros e tecnologia


Um desses dias, eu encontrei na internet um desenho entre os diversos do mesmo estilo com o qual eu tenho certeza de que você já se deparou (ou, pelo menos, um discurso que você já ouviu): uma mãe triste, desapontada, frustrada, ou qualquer adjetivo com associação a alguma coisa negativa que você conheça, pelo filho não ler por ter um vício no aparelho celular.

Detesto vários aspectos desse discurso e espero cobrir pelo menos a maioria deles nessa postagem. Primeiramente, "livro" e "aparelho celular" não são mutuamente exclusivos: obras disponíveis em formato digital são comuns há algum tempo, inclusive houve um aumento de 44% nas vendas de e-books durante a pandemia, o que é um dado digno de atenção. A falta de visitas presenciais não diminuiu a sede por leitura de ninguém e os e-books se provaram uma forma mais rápida e simples de ler: em menos de cinco minutos, você paga e recebe o livro, sem esforço ou contato físico algum. Além disso, livros em formatos digitais tendem a ser mais baratos que os físicos. Ou seja, o discurso que antes já pedia por uma atualização, agora precisa dela, por ser uma das principais formas de leitura durante a pandemia, uma que provavelmente se manterá no futuro pós pandêmico, por ser mais prática.

(Isso sem mencionar a maior acessibilidade de livros em formatos digitais, tanto os escritos quanto os audiobooks.)

Além disso, a falta de gosto pela leitura não é uma falha ou algo absurdo. Sim, tê-lo torna o estudo mais agradável, considerando que escola, faculdade, cursos, entre outras fontes de conhecimento geralmente envolvem leitura, mas não é um requerimento e não diminui o valor de um indivíduo em nível algum. Uma coisa que faz com que esse discurso seja mais inválido para mim é o fato de que os hábitos de uma criança são geralmente derivados do ambiente no qual ela foi criada. Ou seja, se desde a infância existe um incentivo à leitura e contação de história, a probabilidade dessa criança desenvolver um hábito de leitura é maior. Por isso, me traz certa irritação quando retratam os pais como pobres coitados que foram desapontados com um filho "desaculturado", quando a raiz do problema é, provavelmente, a falta de vontade, deles próprios, de incentivar o hábito de leitura dele. Se a falta de apreciação aos livros vinda do seu filho é tão frustrante e incômoda, que pelo menos assuma sua parcela de responsabilidade ao invés de transferi-la para a criança.

Também é importantíssimo ressaltar que incentivar o hábito de leitura de uma criança não é forçá-la a ler: esse incentivo se apresenta na forma de levar seu filho numa livraria, deixá-lo escolher o que lhe interessa de lá; é contar histórias para ele dormir, para acalmá-lo, para diverti-lo... Filmes, seriados, músicas e peças teatrais também podem ser incentivos por serem formas de contação de histórias tão válidas quanto a leitura.

0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page