Li várias coisas sobre a polêmica do ensino de literatura clássica, como Machado de Assis, no Ensino Médio e, como é um assunto importante, achei que uma postagem no blog sobre isso seria pertinente.
Tenho vergonha de admitir que já fui a pessoa que gritava aos quatro ventos que é um absurdo escolas não escolherem livros de autores como J.K. Rowling e Rick Riordan como material extracurricular. Primeiramente, preciso dizer que não tenho mais esse tipo de pensamento, especialmente em relação aos escritores citados acima: os posicionamentos de Riordan sobre paganismo sempre tiveram um quê de intolerância religiosa e Rowling... os comentários transfóbicos que parecem transbordar dela afetam a mim e pessoas com quem eu me importo diretamente, e não vou nem comentar sobre o racismo e anti-semitismo na sua obra; não só porque não é meu lugar de fala, mas também porque esse não é o tema de hoje.
Em um país cuja população elegeu um presidente que bate continência para a bandeira dos Estados Unidos, não é aceitável protestar pelo ensino de livros como Percy Jackson nas escolas. O índice de leitura no Brasil por pessoa é menor que três livros anuais, muitas vezes sendo eles as leituras escolares obrigatórias. Por isso, a leitura de livros nacionais é importante: para a população ser ensinada desde a infância e a adolescência que o Brasil também é culturalmente rico e que não só autores brancos europeus ou dos Estados Unidos são bons o suficiente para serem ensinados em sala de aula.
A questão não é a qualidade ou o nível de dificuldade da obra, mas sim o jeito com o qual ela é ensinada. Uma reflexão a ser feita é, qual é a diferença entre séries de livros infantojuvenis internacionais e livros escritos por autores como Machado de Assis? Por que e como a cultura dos Estados Unidos se tornou mais palatável que a nossa própria?
Uma das primeiras coisas a serem pensadas em relação ao assunto é a linguagem. Toda essa dificuldade colocada na leitura de clássicos é proposital, para segregar o conhecimento literário e acentuar um elitismo intelectual. Quando lendo livros com uma linguagem um tanto difícil, propositalmente ou por ter sido escrito há muito tempo, é bom começar por uma leitura curta para que o leitor se acostume com aquele estilo, além de debates para dar um tom mais moderno à narrativa; não é à toa que que a discussão sobre Capitu ter ou não traído Bentinho está até hoje na boca do povo, ainda popular.
No fundo, temas de histórias são atemporais e é função dos professores acentuar esses traços. São críticas sociais de uma pessoa ou povo oprimido, uma história de amor, de perda ou raiva e frustração. Mas, quando os professores mal conseguem receber um salário suficiente para o sustento, são submetidos a absurdas cargas horárias, tudo isso sem receber o mínimo de apreciação pelo seu trabalho; é utópico, além de injusto, esperar que isso seja incentivo suficiente para uma qualidade no ensino em geral, não só de literatura, que requer investimento e atualização constante.
Outra questão a ser considerada nesse debate é a desvalorização das matérias de humanas e linguagens. Muitas pessoas podem, sim, achar clássicos chatos e complicados, mas o mesmo pode ser dito de álgebra, trigonometria e grandeza proporcional. A diferença entre essas matérias e os livros é que ninguém questiona a presença de matérias difíceis em exatas, mas fazem isso com as de humanas. A literatura ensinada nas escolas não tem necessariamente o propósito de entretenimento, mas sim de documentação histórica e compreensão sociopolítica.
Vou concluir o texto por aqui, mas essa é uma questão complexa que está longe de ser finalizada, que ainda precisa de muitos debates com ela no foco. Também por isso, eu gostaria muito que vocês compartilhassem suas opiniões quanto ao assunto nos comentários.
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