Esse livro foi o escolhido para a discussão de março do Clube de Lesbos, em uma parceria com a editora Companhia das Letras, responsável pela sua publicação no Brasil através do selo Suma. Vou começar a resenha com o que eu disse durante a reunião que aconteceu no último sábado (27): meus pensamentos sobre esse livro não são muito coerentes; eu não fui muito capaz de pensar durante a leitura, mas posso afirmar que senti intensamente. Planejo reler eventualmente para tentar interpretá-lo de forma um tanto mais racional ao invés de instintiva, mas por enquanto, farei essa publicação comentando minhas primeiras impressões e tópicos/aspectos discutidos na reunião.
"É assim que se perde a guerra do tempo" é narrado através de cartas trocadas entre Red e Blue, duas viajantes no tempo da Agência e do Jardim, organizações inimigas na guerra do tempo, respectivamente. Porém o livro é menos sobre a guerra e mais sobre o romance que surge entre as duas durante a troca de cartas e a perseguição de um século para outro.
É necessário dizer que esse livro se tornou um dos meus preferidos antes mesmo de eu acabar sua leitura. Cada palavra escrita nele é tanto uma dádiva quanto um soco no estômago, que nos coloca em contato direto com o âmago da nossa alma. Cada palavra trocada entre as duas protagonistas é crua e sincera, com uma vulnerabilidade que presenciamos de primeira mão: a entrega completa das duas, por cada uma ter o destino da outra nas mãos.
SPOILERS A PARTIR DAQUI!
Existem tantas referências no livro que são encantadoras, mesmo que eu não saiba se são propositais ou não. Foram comentadas na reunião alusões à Guerra Fria e "Romeu e Julieta", famosa obra de William Shakespeare, e eu consigo ver ambas as referências durante a narrativa, mas a que eu mais reconheci foi à história de Orfeu e Eurídice, figuras da mitologia grega.
Nas cenas mais próximas do final, a Agência, organização da Red, descobre, mesmo que parcialmente, que existe uma ligação entre as duas e planeja usar isso para matar Blue, que é uma viajante do tempo de elite na organização rival. Ao descobrir sobre esse plano, Red consegue enviar uma carta para Blue, avisando-a de que ela não deve ler a próxima carta que receber. Mesmo sabendo disso, Blue eventualmente abre e lê a carta.
Esse momento imediatamente me fez lembrar da história de Orfeu e Eurídice: em um primeiro momento, sentimos raiva de Orfeu por ter olhado para trás; ele estava tão perto de trazer sua amada de volta à vida, mas havia desperdiçado a segunda chance que Hades lhe deu. Entretanto, uma das partes essenciais da história, que está presente em todas as suas versões, é que Orfeu olha para trás, para Eurídice, porque a ama. Algumas vezes, ele olha porque não consegue ouvir seus passos e pensa ter sido enganado; outras, ela cai e Orfeu vira para segurá-la; na versão que eu mais gosto e, simultaneamente, mais odeio, Eurídice não sabe que Orfeu não pode olhar para ela, o que faz com que ela, durante todo o caminho, ache que ele não a ama mais.
Apesar de serem razões diferentes, a sensação que tive quando Blue estava a ler a carta foi a mesma: a comunicação das duas era totalmente feita por cartas, aquilo era tudo que elas tinham. Sim, aquela carta era fatal, mas não eram todas? Tanto Red quanto Blue arriscaram suas vidas pela outra desde que começaram a se corresponder, então por que daquela vez seria diferente? Ambas já tinham decidido há muito tempo que a vida era um preço pequeno a se pagar para ter uma a outra completamente, cada palavra, vírgula, exclamação, como se fosse um banquete para alguém esfomeado.
Por hoje, é só, mas se você já leu ou for ler "É assim que se perde a guerra do tempo" e gostaria de discuti-lo, pode comentar aqui na postagem ou enviar uma mensagem para mim através do Twitter!
Nossa eu chorei de formas inimagináveis nesse livro e é isso, surtos. Um livro incrível demais ❤️